After watching Crazy for You in New York City in 1992, Claudia Raia dreamed of one day producing this musical in Brazil. Two decades later, she finally makes her wish come true with an outstanding show at the Teatro Bradesco, São Paulo, directed by José Possi Neto, original choreography by Susan Stroman, and starring Jarbas Homem de Mello, who has been increasingly recognized as one of the most complete performers of musical theater in Brazil.
Os irmãos George & Ira Gershwin compuseram para a Broadway pelo menos uma dúzia de musicais de sucesso e centenas de canções que até hoje são regravadas, as chamadas standards da música popular norte americana. Isto antes de irem para Hollywood onde a parceria musical perduraria até a morte prematura de George, aos 38 anos. Se não contarmos Porgy and Bess (1935), sempre remontado, o último show dos Irmãos Gershwin foi Let 'Em Eat Cake, de 1933. Em 1983, uma remontagem fake de Funny Face (1927), com a modelo Twiggy e o coreógrafo/diretor/ator/dançarino Tommy Tune (vindos do sucesso da versão cinematográfica de O Namoradinho - The Boy Friend, 1971) estreou na Broadway com o título de My One and Only. Só que era uma história completamente diferente, preservando somente seis das 12 músicas originais. Esta mudança no enredo se deveu porque realmente não é fácil trazer para os dias de hoje uma remontagem de um musical dos anos 30, após tantas mudanças sofridas na estrutura da comédia musical nessas décadas todas. Ou seja, os tempos mudaram, as prioridades dramáticas são diferentes e o que era espirituoso ontem, hoje foi redefinido pela platéia que também mudou. Foi atendendo estas necessidades que o libretista Ken Ludwig (o mesmo autor de Procura-se um Tenor e Moon Over Buffalo) e o diretor Mike Okrent (de Me and My Girl) deram uma nova roupagem à excepcional música dos Gershwin, estreando assim em 19 de fevereiro, de 1992, o musical Crazy For You.
Na época o crítico Frank Rich, do The NY Times, após a estreia de Crazy for You na Broadway vaticinou, "quando os historiadores do futuro tentarem encontrar o momento exato em que a Broadway finalmente se levantou para tomar o musical de volta dos britânicos, eles só poderão concluir que a revolução começou na noite passada. O tiro foi disparado no Teatro Shubert, onde um show divertido chamado Crazy for You desarrolhou a mistura clássica do musical americano de música, risos, dança, sentimento e carisma com um frescor e confiança raramente visto durante a década de Cats ...".
O show é de certa forma baseado no grande sucesso de 1930, o musical Girl Crazy, mantendo sua premissa básica. Aqui, em Crazy for You, se conta a história de Bobby Child um milionário e playboy de Manhattan, filho de um banqueiro - mas que preferia estar no show business -, que na época da Depressão é mandado por sua mãe dominadora para executar a hipoteca de um teatro em Deadrock, uma cidade mineira falida em Nevada. Ele também tem uma noiva dominadora. Ali ele acaba conquistando a única beldade da cidade, no meio de 157 homens, Polly Baker, que acontece de ser a filha do dono da hipoteca. Após algumas aparições improváveis, mal-entendidos, e trocas de identidade a la Irmãos Marx, no final feliz um grande show é montado e o teatro falido é recuperado. Girl Crazy por sua vez foi de certa forma um musical histórico já que nos trouxe Ethel Merman em seu primeiro papel na Broadway.
Como uma nota de rodapé adicional, vale lembrar para a posteridade que no fosso da orquestra, conduzida por George Gershwin, na noite de estréia, estava o créme de la créme, nada mais nada menos que Benny Goodman, Glenn Miller, Gene Krupa, Jack Teagarden, Jimmy Dorsey e Red Nichols.
Três adaptações cinematográficas se seguiram sendo a mais famosa em 1943 (Louco por Saias - dirigido por Norman Taurog e Busby Berkeley), estrelado por Mickey Rooney e Judy Garland.
Crazy for You conquistou praticamente todos os prêmios do ano de 1992 como o Drama Desk Award, o Outer Critics Circle Award, e os Tonys de Melhor Musical, Figurinos (para William Ivey Long), Coreografia (para Susan Stroman) e mais seis indicações. Foi um enorme sucesso ficando quatro anos em cartaz, perfazendo um total de 1.622 apresentações. Quando foi montado no West End londrino, em 1993, conquistou o Prêmio Laurence Olivier de Melhor Musical e Coreografia, repetindo o sucesso da Broadway com as atuações de Ruthie Henshall, Kirby Ward e Chris Langham.
Sempre com enredos novos no cinema, mas preservando a idéia básica, Ken Ludwig não fez diferente em Crazy for You e seguiu a fórmula consagrada do musical e do cinema americanos: "rapaz encontra moça, rapaz perde moça, rapaz encontra moça de volta", só que aqui localizado no Oeste Selvagem e num estilo mais para Ginger-e-Fred.
O musical rendeu um CD com o Elenco Original da Broadway, de 1992 (Angel), encabeçado por Harry Groener e Jodi Benson, onde podemos conferir os cinco números "e meio" do show original que foram preservados ("Bidin' My Time", "Could You Use Me?", "Embraceable You", "I Got Rhythm", "But Not For Me" e uma parte de "Bronco Busters") e mais uma dúzia de canções de outros shows e até de filmes musicados pelos Gershwins, sendo que quatro eram inéditas.
Após estrear no ano passado no Teatro do Complexo Ohtake Cultural, agora a montagem nacional de Crazy For You cumpre temporada no Teatro Bradesco, São Paulo, onde podemos conferir um elenco que entretém neste desfile de standards. Jarbas Homem de Mello como um modelo do estilo daquele período nos dá uma interpretação de "I Can't Be Bothered Now" e "Nice Work If You Can Get It" com uma agradável facilidade, não só cantando e atuando, más principalmente nos números de sapateado. Seu timing para comédia é perfeito e ele cada vez mais desponta como um dos mais completos atores de teatro musical no Brasil. Claudia Raia interpreta sua resoluta cowgirl com seu conhecido lado cômico, e dançando muito bem, mas seu vibrato incorreto é colocado de má forma em "Someone To Watch Over Me" e "But Not For Me". Claudia pode ser considerada a pioneira e grande incentivadora desta retomada do teatro musical no país. Sua paixão pelo que faz é indubitável e contagiante, e a plateia a ama! A única objeção é que ela não alcança as notas mais altas, o que fica evidente em "I Got Rhthm", onde Claudia tenta mas não consegue segurar afinadamente a folclórica nota dó central ou dó4 (ou seja, a nota dó na quarta oitava) por dezesseis compassos, assim como fazia Ethel Merman justamente na música em que praticamente inventou o belting. Confira no vídeo a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=UJd6Zg7U_bA
Temos contribuições divertidas de Marcos Tumura como um produtor de sotaque iídiche e Liane Maya como a mãe autoritária/turista americana. Os cenários de Duda Arruk e os figurinos de Fabio Namatame são competentes lembrando muito os da produção americana. Porém o coração do show está em seus production numbers (ou seja, os grandes números musicais) como "Slap That Bass" e "I Got Rhythm", onde acertadamente os arranjos vivazes de Brohn foram conservados, assim como a coreografia original de Susan Stroman, que vão nos conduzindo a um estado de êxtase. O ponto baixo fica a cargo das versões descuidadas de Miguel Falabella para estas músicas que são um verdadeiro patrimônio da humanidade. Aqui não houve muito respeito à métrica, às aliterações, rimas internas, enfim às figuras poéticas do original em inglês. Por exemplo, "Nice Work If You Can Get It" vira "Antes Tarde do Que Nunca". No início dos anos 1990 Carlos Rennó lançou o CD Canções, Versões onde fez um minucioso trabalho com as versões das músicas dos irmãos Gershwin, obedecendo escrupulosamente estas sutilezas, o que poderia ter sido aproveitado nesta produção, que a enriqueceria muito.
Por seus pontos a favor, como a música contagiante, sua alegria, e o ótimo coro (tanto no canto como na dança), Crazy for You deverá ter uma temporada bem sucedida no Brasil agradando o público que sairá do teatro para cima e feliz.
Crazy for You
Temporada: Até 30/março (exceto dia 23/março).
Local: Teatro Bradesco/SP | Bourbon Shopping (Rua Turiassu, 2100 - 3° Piso)
Horários: Sex 21h | Sáb 17h e 21h | Dom 18.
Quanto: R$ 20 a R$ 200
FICHA TÉCNICA
Texto: Ken Ludwig
Músicas: George Gershwin
Letras: Ira Gershwin
Versão Brasileira: Miguel Falabella
Direção: José Possi Neto
Direção Musical e Vocal: Marconi Araújo
Coreografias Originais: Susan Stroman
Supervisor de Coreografia: Jeff Whiting
Direção de Coreografia: Angelique Ilo
Produtores Associados: Claudia Raia e Sandro Chaim
Produção Geral: Sandro Chaim
ELENCO
Claudia Raia, Jarbas Homem de Mello, Marcos Tumura, Liane Maya, Jonathas Joba, Hellen de Castro, Rodrigo Negrini, Alessandra Peixoto, Andrezza Meddeiros, Carla Vazquez, Daniel Cabral, Eduardo Martinz, Elcio Bonazzi, Jefferson Ferreira, João Sá, Mariana Barros, Mariana Gallindo, Mariana Matavelli, Marilice Cosenza, Mateus Ribeiro, Matheus Paiva, Nina Sato, Patrick Amstalden, Paulo Benevides, Raquel Quarterone e Rogerio Guedes.
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