The Rocky Horror Show is a rare theatrical phenomenon. After debuting in a small room in London's underground circuit in 1973, it became a movie, became a pop icon and never left the stage and movie screens. A true legion of fans helps maintain the aura of the musical, in special exhibitions, meetings and happenings all over the world. Four decades after its launch, Charles Möeller & Claudio Botelho will present their Brazilian version at Teatro Porto Seguro.
A noite é escura, chove torrencialmente, o vento uiva e o carro de um jovem casal de repente tem seu trajeto abreviado devido a um pneu furado. A floresta é intensa e tenebrosa e o único sinal de vida vem de um castelo de olhar proibitivo. Quantas centenas de filmes de terror começando assim nós já não assistimos? Porém, na maior parte das vezes, o cientista maluco na residência não vem a ser um travesti, como o Dr. Frank 'N' Furter é, por exemplo, em The Rocky Horror Show. Nem tampouco, em geral, ter seus empregados comportando-se como o staff transilvaniano do Dr. Furter, detonando em uma sequência de números de um glam-rock grotescamente gótico.
Foi num alegre e amável entardecer de uma noite de verão que 60 pessoas se amontoaram no minúsculo Theater Upstairs, da London's Royal Court, para a estreia do show em 1973. E lá eles estavam para levar um choque considerável - embora para afirmar que eles nunca haviam visto nada como The Rocky Horror Show antes não seria estritamente verdade. Ao contrário: pegando cena por cena, este entretenimento escrito pelo ator inglês Richard O'Brien não era nada mais que um mistifório de clichês de filmes bem familiares chamado inicialmente They Came from Denton High, mais tarde tornando-se The Rock Horroar Show, e finalmente com o título atual. Paradoxalmente foi isso que o fez tão divertido - isso e a forma brilhante com o qual a trama foi urdida sem deixar emendas. Produzido por Michael White, dirigido pelo australiano Jim Sharman, e estrelando Tim Curry, O'Brien, Patricia Quinn, Little Nell, Jonatahn Adams, e Meatloaf (todos eles participariam da versão cinematográfica) revelou-se tão popular que mudaria para o King's Road Theater, de 500 lugares, por onde ficou em cartaz quase que permanentemente por seis anos.
Desde o começo o show brinca com a estética muito diferente entre palco e tela, iniciando com uma daquelas típicas baleiras de cinema, nos introduzindo à noite e a apresentando como uma sessão de cinema. Mas a justaposição incongruente está no centro do musical de O'Brien: o enredo vai se desdobrando indo e vindo entre números freneticamente extravagantes brincando com os filmes de terror e ficção científica. Registre-se, também, que estes gêneros são misturados imprevisivelmente. Enquanto músicas como "The Sword of Damocles" depende do tipo de alusão clássica tradicionalmente associada com a cultura "de alto nível", "Hot Patootie - Bless My Soul" é uma homenagem ao rock'n'roll dos anos 1950.
A canção de Janet "Touch-a, Touch-a, Touch-a, Touch-me" pende mais para os tabus morais, franca como é em sua expressão de luxúria feminina frustrada - diferentemente do que poderíamos esperar desta moçoila aparentemente bela, recatada e do lar. Por vezes, é a aleatoriedade satírica que nos choca: a "I Can Make You a Man (Charles Atlas Song)", por exemplo, faz graça com um popular anúncio de revista dos anos 1970 que prometia a jovens e ansiosos rapazes que eles poderiam "se tornar homens respeitáveis" através da musculação.
Na época as plateias londrinas amaram o show; as americanas aparentemente nem tanto. Contudo quando, em 1975, o diretor Jim Sharman produziu The Rocky Horror Picture Show, ele virou a mesa, e foi o público americano que assumiu a dianteira. Devido ao modo como os estudantes dos Estados Unidos aprenderam a curti-lo, o filme não era mais um mero entretenimento para ser consumido passivamente e sim uma experiência multimídia única. O público começou a atender às sessões vestido e maquiado como os personagens, repetindo frases e diálogos em voz alta, interpelando, cantando - e até mesmo atuando - junto. Levavam guarda-chuvas e pistolas d'água para as cenas de chuva, chapeuzinhos de festa para o aniversário do protagonista, e arrozes para serem lançados na cena do casamento. Eu mesmo tive a oportunidade de ir numa destas sessões quando morei em Nova Iorque, numa sexta-feira à meia noite, no 8th Strreet Playhouse (da onde eu guardei este impresso acima), em 1988. Foi realmente incrível! Alguns anos mais tarde, em 2006, juntamente com o crítico Rubens Ewald Filho trouxe o projeto Cante-Com-A-Gente, ao Teatro Folha, apresentando famosos filmes musicais em sessões sing-a-long, evento sem precedente no Brasil, do qual The Rocky Horror Picture Show, evidentemente fez parte.
Um filme ou show "cult" é por definição o entusiasmo de uma minoria, e seus fãs conscientemente se põem de lado de todos aqueles outros que não apreciam a piada. Mas The Rocky Horror Picture Show foi um "cult movie" que encontrou entusiastas ao redor do mundo, tendo seus adeptos até os dias de hoje, com sessões regulares de "sing-a-long" garantindo o lugar do musical na história. Há um mês uma nova versão transmitida ao vivo pelo canal Fox frustrou a maior parte dos seus fãs não repetindo o sucesso do filme.
Com versão de Zé Rodrix, Jorge Mautner e Kao Rossman, e direção de Rubens Corrêa, a primeira Montagem de Rocky Horror Show estreou no Brasil em 1975, no Rio de Janeiro. Nos papeis principais tivemos Wolf Maia (Brad Majors), Eduardo Conde (Frank N. Furter), Lucélia Santos (Baleira) e Tom Zé, (Riff Raff). No mesmo ano a peça foi montada em São Paulo tendo no elenco Paulo Villaça, Antonio Biasi e Lucia Turnbull, substituindo alguns dos atores da versão carioca.
Em 1994, também no Rio, reestreou uma remontagem do musical desta vez estrelando Tuca Andrada (Frank N. Furter), Claudia Ohana (Janet), Marcello Novaes (Rock) e Léo Jaime (Eddy e Dr. Scott) também responsável pelas versões. A direção foi a cargo de Jorge Fernando. Em 2014 tivemos uma concorridíssima montagem acadêmica do show dirigida por André Latorre, no Teatro Ruth Escobar, com os alunos da Cia. Instável de Teatro, integrantes da Faculdade Paulista de Artes.
A aguardada versão do musical que estreou no último dia 11 de novembro, sob a direção de Charles Möeller e versão de Claudio Botelho é realmente uma das produções mais bem acabadas que já assisti. Claudio e Charles têm uma grande cultura cinematográfica. De cinéfilos mesmo. E isto fica evidente na adição de referências e toques cinematográficos que eles deram à montagem, incluindo o número de abertura "Science Fiction", onde um cenário com todos aqueles cartazes de Filmes B são reproduzidos (em determinado momento do musical temos direito até a uma auto referência como na cena do cloche de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?). A versão brasileira de Botelho mostra cada vez mais porque ele é considerado o melhor nesta tarefa no país. Em algumas músicas ele chega a enriquecê-las tornando até melhores do que o original. Rogério Falcão criou um castelo e um laboratório bastante elaborados, com várias citações pop, e um desenho de cena bem criativo que funciona em vários níveis. Os figurinos, também de Charles Möeller, se adequam muito bem às personagens e propõem algumas pegadas únicas ao mesmo tempo peculiares mas sem descaracterizar o trabalho original, o que também pode ser sentido no visagismo muito divertido de Beto Caramanhos que por vezes torna alguns atores irreconhecíveis. Alonso Barros nos proporciona coreografias que tiram o maior proveito do palco, e faz a plateia literalmente dançar junto. São números inesquecíveis de música e dança que vêm representar a liberação sexual dos anos 1970. A iluminação de Rogério Wiltgen, muito bem integrada ao cenário, é excelente e a direção musical de Jorge de Godoy tira um grande som a frente de um quinteto, fazendo-o parecer uma orquestra (Godoy na regência e teclado, Marcelo Manfra no sax, Diogo Cardoso na guitarra, Eduardo Brasil no baixo e Kiko Andrioli na bateria).
Claudio e Charles sempre conseguem formar elencos precisos e estrelares com muita química entre os atores. Aqui não é diferente. Bruna Guerin e Felipe De Carolis estão muito bem como Janet e Brad, respectivamente. Ambos são ótimos cantores e os dois parecem estar jogando com a estranheza que seus personagens experimentam. Aliás, todo o elenco parece se divertir muito contagiando a plateia e a tomando como cúmplices. Bruna nos oferece um trabalho excepcional de abandono sexual na já citada "Touch-A Touch-A Touch Me", e De Carolis não é diferente na incumbência ao dar um tom ao mesmo tempo direto e franco nos números "Damn It, Janet" e "Once in a While". Marcelo Medici dá um verdadeiro show no papel de Frank 'N' Furter, engraçadíssimo e dinâmico mostrando uma habilidade esplêndida para o humor camp e para lançar divertidos apartes à plateia de tempos em tempos sem cair no estereótipo. Ele está hilário em números familiares como "Sweet Transvestite" e "I Can Make You a Man". Sem dúvida que a cena mais ultrajante (e a mais engraçada) é a do encontro "sexual" de Frank seduzindo Janet fingindo ser Brad e depois seduzindo Brad fingindo ser Janet. Não podemos deixar de notar a forma elegante ostentada por Marcelo ao ser capaz de caminhar com sapatos de salto altíssimos, o que já é uma façanha por si só. E o mais importante, era em sua época o único personagem transexual, e se isso é um assunto polêmico ainda hoje, imagine só há 40 anos! Um irreconhecível Thiago Machado tem aquela atitude própria e sinistra no papel de Riff Raff, o mordomo faz-tudo, e Gottsha solta o vozeirão e não economiza nos belts em seus números como Baleira e Magenta, arrancando muitos aplausos da plateia. Felipe Mafra também nos impressiona como o fortão e gostosão Rocky, dando uma certa doçura e inocência sexy ao personagem. Nicola Lama, como Eddie - o motoboy, nos brinda com uma interpretação divertidíssima como roqueiro em "Hot Patootie", para logo em seguida surgir como o cadeirante Dr. Scott, num exótico sotaque, mostrando assim sua versatilidade. Jana Amorim, espirituosíssima, também impressiona como a sapateadora Columbia. Finalmente tenho que ressaltar o trabalho de Marcel Octávio numa criação no mínimo antológica e deliciosa para o Narrador/Criminologista. Ele rouba todas as cenas em que aparece conquistando o público. Eu que já assisti algumas montagens de Rocky Horror Show posso garantir que é a melhor, mais rica e com nuances sutis, seja na fala ou num simples andar. Completam o elenco Vanessa Costa e Thiago Garça, ótimos dançarinos no papel de Fantasmas.
Todas as brincadeiras sobre os horrores da Transilvânia, e as zombarias com o tempo e espaço da ficção científica se juntam de forma espalhafatosa neste grande show que satiriza os filmes de terror B, com um dos mais bizarros grupos de personagens já reunidos em um musical. Rocky Horror Show é um fenômeno mágico único sem precedência nos palcos e uma combinação improvável de ideias, talvez, mas aquela mescla que em grande parte funciona, graças a sua ingenuidade audaciosa, sua energia efervescente, e sua força emocional cumulativa. Tão tola como sua premissa possa ser, Rocky Horror Show não parou por aí más conduziu tanto seus personagens quanto a sua plateia para uma verdadeira jornada moral e imaginativa. O público se divertiu com o show em várias remontagens e tours. Um revival na Broadway entre 2000 e 2002 teve um sucesso relativo e foi indicado para vários Prêmios Tony. Tours pelo Reino Unido (2009), Coreia do Sul (2010), Nova Zelândia (2010) e Singapura (2012) seguiram, não havendo limites geográficos aparentes para o apelo do humor divertidamente não convencional e idiossincrático deste musical, ajudando a fazer dele um dos entretenimentos mais excêntricos e um dos musicais mais satisfatórios já realizados.
Ficha técnica:
MARCELO MEDICI em ROCKY HORROR SHOW.
De Richard O'Brien.
Um espetáculo de Charles Möeller & Claudio Botelho.
Com Bruna Guerin, Felipe De Carolis, Gottsha, Thiago Machado, Jana Amorim, Nicola Lama, Felipe Mafra, Marcel Octávio, Vanessa Costa, Thiago Garça.
Texto, Música e Letras de Richard O'Brien.
Versão Brasileira: Claudio Botelho.
Direção: Charles Möeller.
Coreografia: Alonso Barros.
Cenografia: Rogério Falcão.
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros.
Visagismo: Beto Carramanhos.
Design de som: Ademir Moraes Jr.
Coordenação Artística: Tina Salles.
Direção de Produção: Beatriz Braga.
Produção Executiva: Edson Lopes.
Realização: Möeller & Botelho.
Serviço:
REESTREIA 10/02/2017
Sextas e sábados, às 21h
Domingos, às 19h.
Ingressos:
Plateia: R$ 120,00 / R$ 60,00 (meia-entrada)
Balcão: R$ 50,00 / R$ 25,00 (meia-entrada)
Frisas: R$ 90,00 / R$ 45,00 (meia-entrada)
Classificação: 14 anos.
Duração: 90 minutos de duração + 15 minutos de intervalo.
TEATRO PORTO SEGURO
Al. Barão de Piracicaba, 740 - Campos Elíseos - São Paulo.
Telefone (11) 3226.7300.
Bilheteria: Terça a sábado, das 13h às 21h e domingos, das 12h às 19h.
Capacidade: 508 lugares.
Clientes Porto Seguro têm 50% de desconto na compra de 1 ingresso + acompanhante.
Formas de pagamento: Todos os cartões de crédito e débito.
Acessibilidade:10 lugares para cadeirantes e 5 cadeiras para obesos.
Estacionamento no local: Estapar R$ 20,00 (self parking) - Clientes Porto Seguro têm 50% de desconto.
Serviço de Vans: TRANSPORTE GRATUITO ESTAÇÃO LUZ - TEATRO PORTO SEGURO - ESTAÇÃO LUZ. O Teatro Porto Seguro oferece vans gratuitas da Estação Luz até as dependências do Teatro. COMO PEGAR: Na Estação Luz, na saídaRua José Paulino/Praça da Luz/Pinacoteca, vans personalizadas passam em frente ao local indicado para pegar os espectadores. Para mais informações, contate a equipe do Teatro Porto Seguro.
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