Este foi o 1º show da Broadway que assisti, aos 14 anos, portanto há 40 anos atrás, e acho que comecei bem. E olha que quase não assisto porque no meu preconceito de adolescente acreditava que Annie era uma peça para menininhas! Felizmente insistiram muito para que eu fosse e não me arrependi.
Nunca havia assistido um musical deste porte aqui no Brasil. Então imagine o que eu senti quando ouvi os primeiros acordes da orquestra (ao vivo!), a cortina se abrindo e revelando num palco enorme o cenário de um quarto de orfanato numa fria manhã de um distante dezembro, de 1933. Sem falar dos outros maravilhosos cenários e figurinos além das carismáticas meninas prodígio que interpretavam as órfãs e uma arrasadora performance de Dorothy Loudon (como Miss Hannigan) as humilhando e as obrigando a fazer trabalhos forçados.
Antes mesmo de entrar no teatro parecia que Manhattan inteira já havia acolhido aquela pequena menininha ruiva de olhos vazios e vestido vermelho. Para onde quer que eu olhasse era gente vestindo t-shirts e moletons com o indefectível logotipo da peça. Em Times Square um enorme out-door com a carinha de Annie cobria a fachada inteira de um prédio de uns 13 andares. Inclusive no filme Fama (1980), um dos personagens morava neste prédio num apartamento cuja a janela era um dos olhos de Annie. O impacto foi realmente enorme.
Apelidado de Oliver de saias, o musical foi inspirado na tira em quadrinhos de Annie, a Pequena Órfã, de Harold Gray, com letras de Martin Charnin, música de Charles Strouse (autor de Bye Bye Birdie e Applause) e libreto de Thomas Meehan (libretista de The Producers e Hairspray). Apesar da reação inicial deles ter sido um inqualificável "Arghh...", Charnin os convenceu de utilizar somente os três personagens constantes da tira - Annie, Papai Warbucks e o vira-lata de Annie, Sandy - e colocá-los em uma história original. Por Meehan enxergar Annie como "uma figura metafórica representando a decência, coragem e otimismo inatos em face ao pessimismo, ao desespero e aos tempos difíceis", ele decidiu situar sua fábula na Cidade de Nova York durante a Grande Depressão. Annie (Andrea McArdle, então apelidada de petite Merman), uma criança enjeitada de 11 anos que vive no Orfanato Municipal, anseia que seus pais a resgate das garras da bíbula e espírito-de-porca Agatha Hannigan (Dorotthy Loudon), a supervisora do orfanato. De repente uma miraculosa figura paterna surge na figura do quaquilionário Oliver Warbucks (Reid Shelton), cuja secretária Grace Farrell (Sandy Faison) convidou Annie para passar o Natal com ele. Warbucks, de fato, torna-se tão afetuoso pela criança que planeja adota-la, uma situação que é temporariamente bloqueada pelas maquinações de Miss Hannigan. Mas o industrial abraça a causa de seu amigo o Presidente Roosevelt (Raymond Thorne), e todos - ao menos aqueles que acreditam que o amanhã é somente um dia que já vem - aguardam ansiosamente ter um "New Deal" para o Natal.
O show foi rapidamente adotado pelos frequentadores de teatro que fizeram dele a 3ª mais longa temporada dos anos 70, com 2.377 representações, onde Annie também foi interpretada por Sarah Jessica Parker e Miss Hannigan por Alice Ghostley, Betty Hutton, Nell Carter, Sally Struthers e June Havoc (que na vida real inspirou a personagem Baby June, do musical Gypsy). Este musical que estreou no Alvin Theatre, em 21 de abril, de 1977, foi premiado com oito Tonys (Melhor Musical, direção, libreto, música e letras, atriz (Dorothy Loudon), cenários, figurinos e coreografia, repetindo praticamente os mesmos prêmios no Drama Desk Awards, de 1977.
Com o nome de Annie Warbucks o mesmo trio de compositor, letrista e libretista trouxeram em 9 de agosto, de 1993, uma continuação off-Broadway no Variety Arts Theatre. Tendo apenas 200 representações teve no elenco Harve Presnell (Warbucks), Donna McKechnie (Sheila Kelly) e Kathryn Zaremba no papel título. Anteriormente outra tentativa de uma seqüência, com o título de Annie 2: Miss Hannigan's Revenge, chegou a estrear em dezembro de 1989, ficando poucas semanas em cartaz devido as críticas desastrosas que recebeu.
Em 26 de março, de 1997, por ocasião de seu 20º aniversário, Annie foi remontada na Broadway, no Martin Beck Theatre. Tendo no elenco Sutton Foster, Nell Carter, Conrad John Schuck e Brittny Kissinger, não fez grande sucesso, encerrando a temporada apenas sete meses depois com apenas 239 representações.
Apesar do filme realizado em 1982 ter a direção de John Huston (Relíquia Macabra, O Tesouro de Serra Madre e O Homem Que Queria ser Rei dentre outros clássicos do cinema) e uma superprodução caríssima para a época de US$50 milhões (então um dos musicais mais caros de todos os tempos) e as atuações de Ailenn Quinn (Annie), Carol Burnett (Miss Hannigan), Ann Reinking (Grace Farrell), Albert Finney (Papai Wabucks) e Bernadette Peters (Lily St. Regis), não fez muito sucesso de crítica, fracassando feio nas bilheterias, talvez por ter um elenco inapropriado e por ter sido muito modificado pelo estúdio (há quatro números novos e várias canções cortadas). O que me decepcionou muito já que tinha grande expectativa e aguardava muito pela estreia. Tido por alguns como soporífero, claustrofóbico, medíocre e escapista chegou a ser satirizado em Mamãe É de Morte (1994) onde uma das pessoas é assassinada enquanto está assistindo ao vídeo do filme, e em A Família Adams 2 (1993) as crianças são colocadas de castigo numa cabana assistindo este filme. Em Austin Powers em o Homem do Membro de Ouro uma versão impagável em ritmo de Rap de It's the Hard-Knock Life pode ser vista com o anão Mini Me e Mike Myers. Em 1995 o filme mereceu uma continuação (Annie: Uma Aventura Real), com Joan Collins e em 1999 foi refilmado para a Disney infinitamente melhor, revelando o diretor Rob Marshall (Chicago, Nine, Into the Woods) num elenco repleto de atores conhecidos da Broadway: Kathy Bates, Victor Garber, Alan Cumming, Audra McDonald, Kristin Chenoweth, Andrea McArdle (a 1ª Annie numa participação afetiva) e Alicia Morton (como Annie). Porém melhor e mais emocionante que estes filmes foi o documentário Life After Tomorrow, lançado em 2006, onde temos os depoimentos das diversas (cerca de 40) Annies e sabemos o que aconteceu com elas 30 anos depois de terem encantado plateias, a verdade por detrás dos bastidores e os altos e baixos de suas experiências como atrizes mirins e fenômeno cultural.
Em 2014, Will Smith e sua mulher Jada Pinkett produziram uma infeliz refilmagem do musical passada nos dias de hoje, chamando para estrelar o projeto a menina Quvenzahné Wallis, de Indomável Sonhadora, absurdamente indicada para o Oscar e que aqui confirma que não era atriz, apenas uma criança espontânea que não está preparada para cantar ou dançar ou mesmo representar. Tudo ela copia e faz mal, sem passar nem mesmo o otimismo incurável do personagem. O filme vai de erro atrás de erro, desperdiçando os melhores do elenco (como Jammie Foxx) num musical desengonçado e completamente equivocado, que do espírito original não sobrou nada.
Annie foi um sucesso mundo afora tendo sido montado profissionalmente em países como Argentina (1982), Dinamarca, Hungria (1998), Israel (2001), Japão (1979-), Reino Unido (19781, 1983, 1998), México (1979), Holanda (1997, 2005), Noruega (1991, 2004), Filipinas (1987, 1998), Portugal (1983), Espanha (1982, 2001), Zimbábue (2003) e Colômbia (2006) dentre outros.
Entre os números musicais de Annie temos Maybe, It's the Hard Knock Life, Tomorrow, Easy Street, You're Never Fully Dressed Without a Smile, Little Girls, N.Y.C., Something Was Missing, I Don't Need Anything But You, Annie e New Deal for Christmas. Tomorrow tornou-se um verdadeiro hino, sendo constantemente executada em aberturas do Super Bowl, nos Estados Unidos.
Das gravações de Annie duas são consideradas as melhores: a do elenco original da Broadway, de 1977 (Columbia/Sony) e a trilha sonora da versão feita para a tevê, de 1999 (Sony). Uma gravação de elenco (cast recording) foi lançada em junho de 2008, em comemoração ao 30º aniversário do musical (Time Life Records). O produtor do álbum reuniu um elenco all-star formado por membros dos elencos de Annie de todos os tempos, incluindo Carol Burnett, Sally Struthers, Kathie Lee Gifford, Andrea McArdle, Conrad John Schuck, Harve Presnell, Gary Beach, Marissa O'Donnell e Amanda Balon. Esta gravação é um CD duplo e inclui o show completo, sendo que no 2º CD temos canções de Annie 2: Miss Hannigan's Revenge assim como canções que foram cortadas ou acrescentadas da produção original e uma canção do especial de Natal de 1977. O encarte do CD é todo apresentado em forma de revista em quadrinhos.
Lamentavelmente, mesmo após entrar em contato com a produção e a assessoria deste musical por e-mail, whatsapp e inbox, não obtivemos resposta quanto a solicitação para o nosso cadastramento para a coletiva de imprensa. Tampouco recebemos release sobre a peça assim como o serviço para informar aos leitores. Esperamos que isto seja corrigido nas futuras produções.
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