A foto que ilustra esta crítica não é do espetaculo que ontem estreou no Espaço Sesc Copacabana. Nela estão Inez Viana, Alessandra Verney, Ivana Domenico, Gottsha, Ada Chaseliov e Stella Maria Rodrigues em Cole Porter- ELE NUNCA DISSE QUE ME AMAVA, onde o publico e a imprensa carioca conheceu pela primeira vez a expressão: "Um espetaculo de Charles Möeller e Claudio Botelho".
Agora, alguns anos depois, Möeller e Botelho comemoram a parceria com um acontecimento teatral memorável que, desde já, vai entrar para a História dos dois e com certeza para a da platéia que em irrepreensível trajetória, eles formaram. VERSÃO BRASILEIRA reafirma, utilizando apenas e tão somente TALENTO, a maturidade que estes dois artistas alcançaram.Claudio Botelho revela uma segurança e dominio de palco que só os grandes "entertainers" possuem. É curioso que até em canções como "I DREAMED A DREAM" (de LES MISERABLES), que a mídia internacional explorou até a exaustão no ultimo ano (alguem ainda se lembra de Susan Boyle?), Botelho encontre uma interpretação absolutamente pessoal, suave, personalíssima, surpreendente, inesquecível e única. O roteiro (assinado pela dupla) nos mostra de cara, através de LET'S CALL THE WHOLE THING OFF(George e Ira Gershwin) que os dois, mesmo trabalhando sempre juntos, são completamente diferentes um do outro. Talvez essa característica seja uma prova contundente de que os opostos se atraem e dão certo. Foi assim com Rodgers e Hammerstein, com Kander e Ebb e até mesmo com os irmãos Gershwin, isso só no campo dos musicais.
Assim, na simplicidade do espaço elegantemente criado por Charles, Claudio passeia pelo tempo e por vários sucessos internacionais por ele traduzidos como COMPANY, MISS SAIGON, CHICAGO, SWEET CHARITY, MY FAIR LADY, WEST SIDE STORY, O BEIJO DA MULHER ARANHA (KISS OF THE SPIDER WOMAN), LADO A LADO COM SONDHEIM (SIDE BY SIDE BY SONDHEIM),A NOVIÇA REBELDE(THE SOUND OF MUSIC),AVENIDA Q (AVENUE Q) e o recente fenomeno de critica e bilheteria (campeão absoluto de premios) O DESPERTAR DA PRIMAVERA (SPRING AWAKENING). Cumpre destacar a genialidade de transformar LE JAZZ HOT de VITOR OU VITÓRIA (
Victor VictorIA) numa quase vinheta, sem qualquer acompanhamento instrumental, utilizando apenas o estalar dos dedos de Claudio e dos musicos ( e tambem da platéia, na noite de estreia para convidados).
Então, embarcamos quase sem sentir (uma caracteristica inteligente do roteiro), no seguimento brasileiro da obra de Möeller e Botelho,onde Claudio interpreta Chico Buarque (NA BAGUNÇA DO TEU CORAÇÃO, A OPERA DO MALANDRO, SUBURBANO CORAÇÃO), Ed Motta ( 7- O MUSICAL) e Carlos Lyra na (hoje um hino) MARCHA DA QUARTA FEIRA DE CINZAS,de SASSARICANDO, que ganhou um sabor especial com a presença de Lyra na primeira fila. Aliás é deste bloco mais um dos inúmeros momentos antológicos do espetaculo: o "dueto" de Claudio com Edgar Duvivier no sax, interpretando SASSARICANDO de Luis Antonio, Oldemar Magalhães e Zé Mario. Teatro puro!
A direção de Charles Möeller é absolutamente impecável,demonstrando possuir em cada segundo do espetaculo sua caracteristica indiscutível de "showmanship", termo que, até mesmo na Broadway, poucos diretores conseguiram acrescentar a seus curriculos. Fundamental em toda a realização, é a contribuição valiosa desse poeta da luz (e das sombras) que é Paulo Cesar Medeiros. É incrivel como até mesmo as caracteristicas arquitetonicas da sala de espetaculo são aproveitadas por esse grande artista. Por exemplo, quando Claudio interpreta O BEIJO DA MULHER ARANHA, Paulo Cesar consegue transformar o teto do Espaço Sesc numa ameaçadora teia purpura, iluminando tão somente as barras de ferro onde estão colocados os refletores. Arrepiante. As projeções de Rico e Renato Villarouca da mesma forma dão ao espetaculo mais um de seus toques mágicos, principalmente no ultimo bloco (que não vamos revelar aqui para não acabar com a surpresa) onde cada um dos logotipos que aparecem no centro do palco são recebidos por manifestações espontâneas de encantamento vindas da platéia.
A destacar tambem os criativos arranjos de Marcelo Castro e Thiago Trajano ( que tambem estão ao piano e nas cordas respectivamente, juntamente com Edgar Duvivier nos sopros) e o design de som competente de Marcelo Claret.
VERSÃO BRASILEIRA é daqueles espetaculos que fazem o ato de estar na platéia numa experiencia absolutamente única. Saímos do teatro com muitas canções dentro da alma e lágrimas nos olhos por testemunharmos,em pouco menos de duas horas, a trajetória de dois meninos que se transformaram, com trabalho e nenhuma concessão, em maduros e verdadeiros Homens de Teatro.
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