Claudio Botelho and Charles Möeller after a wonderful concept of GYPSY (a solid hit, now in São Paulo) and before a big production of HAIR, open in Rio a musical with the best of the most important Brazilian rhythm: the samba.
A mesma equipe que ressuscitou a marchinha carnavalesca do Brasil com SASSARICANDO, está de volta com É COM ESSE QUE EU VOU no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, um antologia com os 83 sambas mais famosos de todos os tempos, compostos entre 1920 e 1970.
- O espetáculo tem um roteiro feito em cima de canções e de poucos diálogos - que servem apenas como apresentação do tema que está por vir. - Descobrimos que os nossos compositores são excelentes dramaturgos. A música brasileira nos oferece a trama, o roteiro e uma história. O texto teatral está nas letras das músicas - explicam Rosa e Sérgio, numa declaração a O GLOBO.
O roteiro passa por clássicos de Noel Rosa, Jota Júnior, Ataulfo Alves e Mário Lago, entre muitos outros.
A seleção das canções demorou mais de um ano para ficar pronta e foram necessárias várias triagens para chegar aos 83 sambas finais.
- É uma revista musical, em que as composições têm uma linha temática. Estamos retratando a história social do Rio através de antagonismos: o rico e o pobre, o morro e a cidade... - completam os realizadores.
Para Claudio Botelho, o desafio da construção do enredo e das músicas serve para fazer aquilo que está na memória de muito carioca tomar vida em cena. Fazer com que personagens urbanos das canções, como a Nega Maluca ou o boêmio embriagado, tornem-se personagens de teatro.
- É legal fazer isso com um material bem brasileiro, especialmente quando ele nunca foi encenado.
As ideias para a cenografia vieram dos antigos cassinos da Urca ou do glamour dos bailes de Carnaval de 1920 a 1970. Seis cenários móveis vão se transformando durante a apresentação.
O público vê o bonde de Santa Teresa, os Arcos da Lapa e até o Pão de Açúcar. Já para o figurino, os trabalhos do cartunista e ilustrador carioca J. Carlos serviram como inspiração.
Estes são alguns dos sambas antológicos executados no espetaculo: Zé Marmita - Brasinha-Luís Antônio - 1953, Sapato de Pobre - Luís Antônio-Jota Júnior - 1951, O Bonde de São Januário - W. Batista-Ataulfo Alves - 1941, Bom dia, Avenida - Herivelto-Grande Otelo - 1944, Não Tenho Lágrimas - Bulhões-Milton Oliveira - 1937,Atire a Primeira Pedra - Ataulfo Alves-Mário Lago - 1944, Eu Agora Sou Feliz - Jamelão-Mestre Gato - 1963, Nega Maluca - E. Ruy-Fernando Lobo - 1950, A Mulher Que É Mulher - K.Caldas-A.Cavalcanti - 1954, O Bigode do Rapaz - R. Martins-A.Garcez - 1943, Um Samba em Piedade - Ary Barroso - 1932, Madureira Chorou - Carvalhinho-J. Monteiro - 1957, Alegria - Assis Valente-D. Maia - 1937 e É com Esse Que Eu Vou - Pedro Caetano -1947.
A seguir as impresssões de Joaquim Ferreira dos Santos sobre É COM ESSE QUE EU VOU:
"As músicas de carnaval até o final dos anos 60, quando os sambas-enredos tomaram conta da festa, eram as marchinhas e os sambas. As primeiras zoavam das modas, dos políticos, e serviam como uma crônica bem-humorada dos últimos acontecimentos.
Dá para contar a história do Rio de Janeiro na primeira metade do século passado através de suas letras.
Os sambas eram mais clássicos e menos datados.
Falavam dos amores, da questão social que havia por trás da lata d'água na cabeça e da constatação de que está faltando um zero no ordenado de todo mundo. Eram menos gaiatos, com menos pó-de-mico no salão, e flertavam com um lugar na eternidade.
São regravados hoje e, como "Não tenho lágrimas", "Mora na filosofia", dão a impressão de que acabaram de sair do forno do compositor.
A marchinha era o lançaperfume no cangote da moça.
O samba era a declaração de amor.
Depois das marchinhas em "Sassaricando", Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral apresentam uma coleção de 81 sambas em "É com esse que eu vou", e contam outra etapa de uma das mais preciosas caixinhas de músicas do acervo da MPB. É um grande espetáculo, daqueles que dão um arrepio de orgulho cívico. Essas músicas geniais cantam Lapa, Mangueira, Piedade ou Madureira, mas de repente colocam a cena dentro de um bonde em Ipanema que já pode até ter saído dos trilhos faz tempo, mas graças a um musical como este não sairá jamais do coração e da mente de quem gosta desta cidade.
O formato tem muita semelhança com o de "Sassaricando", e este é apenas mais um dos muitos elogios que se pode fazer ao trabalho dos diretores Charles Möeller e Claudio Botelho.
Sete excelentes cantores desfilam sambas enfileirados em blocos temáticos (paz e amor, rico e pobre, etc). Também dançam e fazem pequenos esquetes, como na seleção de sambas em que as mulheres revoltamse contra os maustratos que costumam ter nas letras - e deixam os homens, literalmente, de quatro no palco.
Havia mais luz do sol, tanto riso, ó quanta alegria, e mulata bossa nova no show das marchinhas. Em "É com esse que eu vou", uma boa parte do primeiro ato é feita sob a luz dos lampiões da Lapa e revela uma cena mais densa do carnaval, como em "Fechei a porta", regravada por Chico Buarque, ou "A primeira vez", por João Gilberto.
"Agora é cinza", um dos mais belos sambas de toda a história, 60 anos depois, aparece, de tão clássico, com sua quase solenidade. Se as marchinhas faziam pular, chegou a vez, como nos salões de baile, de dar um descanso aos foliões e ouvir os sambas de Monsueto, Herivelto Martins, Roberto Martins, Cyro de Souza, Geraldo Pereira e Wilson Batista - mas sem perder a sensação de estar em meio à grande festa da exaltação de uma raça.
"É com esse que eu vou" coloca no palco novamente a alegria de ser carioca e fala do seu Oscar, da Isaura, do seu Libório, gente que morava naquela esquina do outro lado da rua e que, de alguma maneira, apapelo humor, pela maneira de levarem a vida, acabaram influenciando as nossas, seus vizinhos. É um show da raça carioca, da afirmação de seus heróis cotidianos, do Zé Marmita, da Rosa Maria, da Nega Maluca, gente que andava no bonde 56 com a avó do leitor, ou jogava sinuca com o avô do jornalista, e deixam no show, pela irresistível sensação de felicidade que transmitem, a impressão de que todos se davam muito bem - e que podemos um dia recuperar esta capacidade de cidadania amável" (Fonte O GLOBO)
A EQUIPE DE CRIAÇÃO:
Concepção, Pesquisa, Roteiro e Direção Geral:
Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral
Direção Cênica:
Charles Möeller & Claudio Botelho
Direção Musical e Arranjos:
Luis Filipe de Lima
Iluminação:
Paulo César Medeiros
O ELENCO:
Soraya Ravenle
Marcos Sacramento
Mackley Matos
Beatriz Faria
Lilian Valeska
Pedro Paulo Malta
Alfredo Del-Penho
Produção:
Tema Eventos Culturais
Aventura Entretenimento
SERVIÇO:
É COM ESSE QUE EU VOU- Teatro Oi Casa Grande (926 lugares). Avenida Afrânio de Melo Franco, 290, Leblon, 2511-0800. Quinta e sexta, 21h; sábado, 21h30; domingo, 19h. R$ 30,00 a 80,00 (qui. e sex); R$ 40,00 a R$ 100,00 (sáb. e dom.). Bilheteria: 15h/20h (ter. e qua.); 15h/21h (qui. e sex.); 12h/21h30 (sáb.); 12h/19h (dom.). Cc: todos. Cd: todos. IC. Estac. no Shopping Leblon (R$ 5,00 por uma hora). Até 10 de outubro.
(Nossos agradecimentos ao site Möeller & Botelho e ao jornal O GLOBO)
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