With a young, cohesive and full of energy cast, the rock opera Jesus Christ Superstar gets a revival in São Paulo, in a version with high levels of emotion, watching the last days of Jesus.
Embora concebido como obra teatral, Jesus Cristo Superstar nasceu como um LP duplo, isto porque seu compositor Andrew Lloyd Webber e o libretista Tim Rice não encontraram um produtor que quisesse correr o risco de encenar uma obra tão vanguardista para sua época. Entretanto, foi só após o sucesso mundial do disco (que ganhou o prêmio "Disco de Ouro" com músicas que ocuparam os primeiros lugares na prestigiosa Billboard, em 1971) é que foi possível montar na Broadway a obra que se auto intitulava "rock-opera", e que recontava a Paixão de Jesus Cristo de forma exibicionista, exagerada, sarcástica e alucinante. Apesar das críticas divididas e a oposição de vários grupos religiosos, o show tornou-se um fenômeno de mídia e sucesso de bilheteria.
Tom O'Horgan, o jovem e dinâmico diretor que havia feito de Hair um sucesso espetacular, foi responsável pela montagem viva, colorida e barulhenta de Jesus Christ Superstar. As músicas que já eram bem conhecidas ganharam uma popularidade imediata e a música título "Superstar" transformou-se num verdadeiro hino. Andrew Lloyd Webber já começava a dar mostras de sua veia romântica, que viria se expandir e predominar em musicais posteriores. As misturas dos sons de rock com lindas baladas e letras inteligentes de Tim Rice foram muito felizes, e até hoje, 44 anos depois de sua estreia, o score de Jesus Christ Superstar é muito ouvido e alguns de seus números tornaram-se verdadeiros clássicos.
A inspiração de Tim Rice para escrever as letras e o enredo do musical veio do livro Life of Christ, escrito pelo midiático bispo norte-americano Fulton John Sheen, onde as histórias dos evangelhos eram comparadas e explicadas. O tema da ressurreição era cuidadosamente explanado para concentrar-se em Jesus como objeto da atenção das autoridades romanas na Última Ceia, na traição de Judas e na crucificação. Tim Rice determinou Judas como o personagem principal de seu enredo e deu a Maria Madalena um papel de grande destaque, questionando-lhe o caráter de uma mulher decadente - importância, aliás, que também é dada no Evangelho.
A versão cinematográfica foi realizada em 1973, sob a direção de Norman Jewison (Um Violinista no Telhado, No Calor da Noite), com locações em Israel e tendo no elenco Ted Neeley, Carl Anderson, Yvonne Elliman e Barry Dennen do elenco da Broadway, e ainda o ubíquo astro pornô Paul Thomas.
A primeira montagem de Jesus Cristo Superstar estreou no Brasil em março de 1972, no emblemático Teatro Aquarius, no bairro do Bexiga, em São Paulo, onde os atores Eduardo Conde e Antônio Fagundes se destacaram no papel título. A estreia no Brasil tão pouco tempo depois da sua estreia na Broadway, cinco meses, deveu-se a uma singularidade: o LP foi inicialmente descoberto pelo grande público em dois países: aqui e na Holanda. As versões das letras para o português foram de Vinícius de Moraes - cheias de gírias da época, hoje quase incompreensíveis. E mesmo passados 42 anos depois da estreia, a remontagem da ópera rock, no Teatro do Complexo Ohtake Cultural, em São Paulo, ganha novamente a oposição de alguns grupos religiosos que consideram profana esta abordagem da vida de Jesus.
Para se ter uma ideia, alguns movimentos cristãos/evangélicos chegaram a criar uma petição, movimentando as redes sociais sob o argumento de que "Não se pode promover atentados contra a Fé dos brasileiros sob pretexto de promover a Cultura!". Atores do elenco também se chocaram com algumas ameaças recebidas pelo Facebook, como a "de irem para o inferno!". Os atores consideraram estes comentários ingênuos, já que não "há nada de blasfemo" na montagem. O diretor Jorge Takla, ele mesmo um católico devoto, já esperava por estas manifestações, já que o musical trata "Jesus de maneira extremamente humana, um homem com seus conflitos, suas dúvidas e seus medos", destacando que a arte se sobrepõe a particularidades religiosas e políticas.
Jorge Takla (My Fair Lady, Evita, O Rei e Eu) entrega uma montagem que é um verdadeiro tour-de-force, apresentando um Jesus Cristo em meio ao culto à celebridade, ao mostrar sua última semana de vida. Ele é bem sucedido ao trazer os problemas dos personagens, reverenciados e injuriados, com os pés no chão. Algumas das canções examinam o relacionamento de Jesus com seus discípulos (O Céu Não Vai Te Proteger / O Que Tá Rolando Aqui) e suas dúvidas sobre fazer o que é esperado dele (Getsêmani); enquanto isso, outras canções falam do caráter traidor de Judas, mostrando suas ações e efeitos a partir de múltiplas perspectivas.
O excelente elenco transmite a riqueza da história. Como Jesus e Judas, respectivamente, Igor Rickli (Hair, Judy Garland - O Fim do Arco-Íris) e Alírio Netto (que curiosamente representou Jesus na montagem mexicana do musical em 2001), estão perfeitos em seus papeis - Igor parece ter saído de um quadro renascentista para o palco. Suas vozes poderosas e de grande amplitude são capazes de lidar com o score exigente e as complexas interpretações. O número "A Morte De Judas" de Alírio é arrebatador, levando a plateia abaixo. Negra Li (estreando em um musical) está correta como Maria Madalena arrependida de seus pecados, e é ela quem canta a mais bonita e o maior sucesso dentre as músicas do show: "Não Sei Como Amá-Lo", uma das composições de Webber e Rice mais regravadas por diversos artistas.
Não bastasse Fred Silveira (Avenida Q, West Side Story) ser um cantor espetacular, ele ainda encontra uma profusão de nuances no seu Pôncio Pilatos e seu repúdio a Jesus na sequência "Julgamento Perante Pilatos / As 39 Chibatadas", que é particularmente possante. A bela voz de baixo profundo de Rogerio Guedes (Crazy for You, A Familia Addams) se destaca e faz seu Caifás mais aterrorizante ainda. Beto Sargentelli (A Família Addams, Shrek) vem se destacando a cada musical, e como Simão o Zelote tem seu grande momento no solo de "Simão O Zelote", onde dá uma interpretação emocionante e extraordinária. Mas a grande surpresa do show é o pouco provável Rei Herodes de Wellington Nogueira (Broadway Babies, A Família Addams) que empresta autoridade e muito humor num papel muitas vezes mal aproveitado, transformando o número "A Canção De Herodes" no showstopper do musical.
Também acertados são os novos arranjos de Vânia Pajares, privilegiando as guitarras e percussão, dando uma sonoridade diferente e uma abordagem mais atual. Os belos figurinos de Mira Haar e Takla são ao mesmo tempo clean e camp, futuristas e retrô, com referências pop que vão do kitsch a Paco Rabanne, de Guerra nas Estrelas a Mad Max e Barbarella. Os cenários de Takla e Paulo Correia também têm uma estética clean, quase minimalista, não atrapalhando a coreografia aprimorada e envolvente de Anselmo Zolla. A iluminação de Ney Bonfante entra em harmonia com esta concepção. Por fim vale destacar a bem feita versão brasileira de Bianca Tadini e Luciano Andrey para as letras de Rice.
Transgressor, iconoclasta e inovador, Jesus Cristo Superstar é um grande espetáculo que antes de ser crucificado, merece ser conferido.
SERVIÇO:
JESUS CRISTO SUPERSTAR
Realização: TIME FOR FUN E Takla Produções
Temporada: de 14 de março a 08 de junho
Local: Teatro do Complexo Ohtake Cultural - (Rua dos Coropés, 88 - Pinheiros)
Horários: quintas e sextas, às 21h; sábados, às 17h e 21h; domingos, às 18h
Duração: 130 minutos em dois atos (com intervalo de 15min)
Ingressos: de R$ 25,00 (meia-entrada) a R$ 230,00
Classificação Etária: Classificação livre. Menores de 12 anos acompanhados dos pais ou responsáveis legais.
Capacidade: 627 lugares
Estacionamento com manobrista: R$25,00
Estrelando: Igor Rickli, Negra Li, Alírio Netto, Fred Siveira, Wellington Nogueira, Rogerio Guedes, Julio Mancini, Beto Sargentelli, Cadu Batanero, Alessandra Dimitriou, Beto Sorolli, Cadu Batanero, Daniel Caldini, Felipe Guadanucci, Fernando Lourenção, Gabriel Camilo, Jhafiny Lima, Marcelo Vasquez, Marisol Marcondes, Murilo Armacollo, Nathalia Mancinelli, Olivia Branco, Paula Miessa, Philipe Azevedo, Renato Bellini, Sandro Conte Febras, Thatiane Abra, Thiago Lemmos e Tino Zanni.
Equipe Criativa: Jorge Takla (Direção), Anselmo Zolla (Coreografia), Vânia Pajares (Direção Musical), Ney Bonfante (Designer de Luz), Fernando Fortes (Designer de Som), Mira Haar e Jorge Takla (Designer de Figurino), Duda Molinos (Visagismo), Jorge Takla e Paulo Correa (Cenografia) e Bianca Tadini e Luciano Andrey (Versão Brasileira).
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